Seja qual for o seu gosto musical, você vai ter que concordar comigo: a cantora Marília Mendonça deu um show de acessibilidade e inclusão social na sua apresentação online no Youtube no dia 9 de Maio de 2020. Pois, a cantora fez sua primeira live com audiodescrição para pessoas com deficiência visual.
A live começou às 20:30 horas do sábado e foi até às 02:13 horas da manhã do domingo. Nestas mais de cinco horas de espetáculo, a cantora goiana Marília Mendonça cantou ininterruptamente e deu uma aula de simpatia, profissionalismo e, acima de tudo, preocupação com a inclusão.
A live, que foi gravada no jardim da casa da cantora, contou com interpretação para LIBRAS (língua brasileira de sinais, para pessoas surdas) e com audiodescrição.
A audiodescrição é um tipo de tradução das imagens em palavras, um recurso de acessibilidade comunicacional que visa ampliar o entendimento de pessoas cegas, com baixa visão, idosos, estrangeiros, pessoas com deficiências cognitivas e até mesmo as pessoas sem deficiência que, momentaneamente, possam estar sem condições de ver a tela onde a live está sendo exibida.
Afinal, quem nunca foi para a cozinha preparar um lanchinho e ficou triste por estar perdendo parte de uma novela, show ou filme, só porque não consegue acompanhar plenamente o que está acontecendo, escutando apenas o som do programa?
A audiodescrição da live da cantora Marília Mendonça ficou à cargo aqui da nossa equipe TraduSound que foi composta por audiodescritores, consultores, técnicos e diretores. E foi transmitida para as pessoas com deficiência visual através da Rádio da Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB), que foi nossa parceira nessa live.
As descritoras Ana Julia Perrotti, Kelly Alcântara, Fernanda e Luiza Brahemcha e Nara Marques revezaram-se durante o tempo todo, para que o resultado fosse sempre o melhor possível, dada a natureza ao vivo do evento.
Além disso, a consultoria ficou a cargo do Luigi Kichel e do Rafael Nimoi, que já haviam colaborado durante a preparação pré-evento, também ficaram o tempo todo acompanhando as descrições e sugerindo melhorias, alterações e dando os parabéns pelas boas soluções encontradas pela equipe nas diversas situações que ocorreram durante o show.
Até onde se saiba, esta foi a primeira live que teve audiodescrição simultânea, ao vivo e feita por descritoras com acesso remoto ao evento (por conta do isolamento social imposto pela situação de pandemia enfrentada). Ana Julia e Kelly, cada uma em uma casa, dividiram com Nara (que estava em Araraquara) e as irmãs Fernanda e Luíza (moradoras de Jundiaí) a tarefa de descrever em tempo real os gestos, passos de dança, e até as mensagens twitadas pelos expectadores, que eram apresentadas na tela e, em alguns momentos, em um telão ao fundo do cenário.
Além disso, os consultores estavam na cidade de Americana, no interior de São Paulo. Toda essa conectividade só foi possível graças às conexões com a internet, plataformas de acesso remoto, aplicativos para celular e o apoio da Rádio ONCB, que fez a intermediação entre os expectadores e a equipe de audiodescrição.
Sim, muita coisa poderia ter dado errado – bastaria acabar a luz, cair a internet ou algum equipamento sofrer uma pane. Entretanto, mesmo com os pequenos deslizes típicos dos eventos pioneiros, a experiência foi bem-sucedida, acolhida com elogios pela grande maioria dos expectadores e pelos coordenadores da ONCB e os organizadores da live.
Marília deu um show, brilhou e encantou, não só por seu profissionalismo, mas acima de tudo por ter mostrado que a acessibilidade é mais do que um tema, é algo que precisa se tornar realidade em todos os espetáculos artísticos.
Acompanhe um pouco de como foi a live com audiodescrição
Imagem: Divulgação.